segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Psicologia de um vencido (Augusto dos Anjos)

 
George Seurat

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,

Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

Um comentário:

  1. ESte é um dos principais sonetos dele. Merecem destaque as rima esdrúxulas, muito bem regidas

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