Hello, hello, Daddy, are you there? Hello, hello, Daddy, are you there? Hello. Daddy, are you there? Hello.”
Não achei esse filme tão brilhante quanto conferi em análises de cinéfilos espalhadas pela Internet, principalmente devido a uma questão de saúde pública. Publico minha análise sobre o filme na tentativa de desmitificar a esquizofrenia como um transtorno necessariamente ou frequentemente violento.
Clean, Shaven, revela uma luta invencível pelo controle do equilíbrio psíquico, vivenciada por um esquizofrênico e assassino. Este, bombardeado por delírios persecutórios e alucinações ininterruptas, retratada por estáticas radiofônicas e vozes invisíveis crucificadoras, chega ao ápice do desespero ao recorrer à automutilação e ao assassinato. Isso é fórmula chiclete para consumo em progressão geométrica, incoerente cientificamente. Óbvio que não só esse filme, mas toda a indústria do entretenimento é adepta desse tipo de distorção. Aliás, conferi que o próprio diretor supracitado abordou enredo similar a esse em Keane. Agora vamos à ciência.
As manifestações de violência dos psicóticos costumam ocorrer na mesma proporção da violência praticada pela população em geral.
Hafner e Bocker realizaram na década de 80 um estudo epidemiológico acerca dos crimes de violência e distúrbios mentais. Levantaram os prontuários policiais e médicos de 10 anos na Alemanha, onde os índices de solução para crimes ultrapassa 95%. Um primeiro resultado foi a proporção de criminosos com distúrbios mentais entre a população estudada: dos criminosos, apenas 2,97% tinha problemas mentais. De posse dos dados, foi calculada a probabilidade de um doente mental tornar-se um criminoso violento. Para a esquizofrenia, a probabilidade é de 0,05%, ou seja, 5 agressores violentos entre 10.000 esquizofrênicos. Para a psicose afetiva, a probabilidade é de 0,006%, ou de 6 violentos em 100.000 doentes. Os autores concluíram que os crimes violentos cometidos por doentes mentais são quantitativamente proporcionais ao número de crimes de violência cometido pela população geral. Este trabalho foi replicado em outras populações e em outros períodos e encontraram o mesmo perfil de resultados.
Boa parte dos trabalhos científicos não encontrou diferença estatística na prevalência da violência em doentes mentais sem abuso de substâncias, quando comparados com a população geral, sendo que o risco de violência em indivíduos da população geral com abuso de álcool ou drogas foi duas vezes maior do que em pacientes esquizofrênicos sem esse abuso.
O senso comum que classifica o esquizofrênico como violento é fruto de preconceito e permissividade às ideias propagadas pelas suas comadres leigas e pela indústria do entretenimento.
Quem mais violenta é a sociedade ao “louco” e não o contrário. Os normais prendem, humilham, internam sem consentimento, sedam, demenciam e estigmatizam o “louco”.
Mais:
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