Mostrando postagens com marcador Filosofia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Filosofia. Mostrar todas as postagens
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
terça-feira, 6 de julho de 2010
Do espetáculo analítico e reducionista à incerteza solipsista
Assimilações da aula “O espetáculo e o espectador”, ministrada pelo Prof. Dr. Clóvis de Barros Filho, acerca do subjetivismo cartesiano, do cientificismo galilaico e do humanismo moderno
Não matematize radicalmente o conhecimento. Eu duvido, logo sou. Eu penso. Não se duvida da dúvida. Confiável está na esfera do relativo. Absoluta é a verdade dos números. As certezas absolutas estão e devem estar ao alcance de qualquer um.
Antes de Galileu, a ciência era realista, com sua percepção ingênua e espontânea do mundo. A perspectiva galilaica inverte o processo. Galileu, com sua nova Física, propõe uma matematização radical do conhecimento. O quantitativismo científico proposto pela matematização da ciência começa a despertar inquietação. Passa-se a tornar igual aquilo que não é exatamente igual, o mundo é submetido a abuso.
O método cartesiano propõe o Discurso do Método, com sua concepção mecanicista da natureza. Este seria mais verossímil se fossem aparadas as arestas da singularidade dos fenômenos, que tornam toda a quantificação abusiva e estuprante de um real que não se pode categorizar e matematizar, porque cada unidade de real apresenta sua singularidade. Isso torna a quantificação abusiva e nada garantidora de certeza alguma.
O método cartesiano propõe o Discurso do Método, com sua concepção mecanicista da natureza. Este seria mais verossímil se fossem aparadas as arestas da singularidade dos fenômenos, que tornam toda a quantificação abusiva e estuprante de um real que não se pode categorizar e matematizar, porque cada unidade de real apresenta sua singularidade. Isso torna a quantificação abusiva e nada garantidora de certeza alguma.
Pouco a pouco são definidas teses metodológicas qualitativistas que buscavam o afinamento com a singularidade das unidades de real. Essas teses são menos pretensiosas e lidam com um mundo infinitamente complexo que não se pode tratar com certeza.
Essa sistematização é rompida com o advento do Humanismo. O pensador moderno não pretendia investigar certezas a respeito do mundo e de si mesmo ou conhecer por conhecer. Entretanto, buscava um projeto grandioso de civilização. O pensador moderno enxergava a civilização à frente, buscava por uma finalidade da sua existência e do coletivo. Assim, a sociedade passa de um realismo ingênuo a um idealismo garantidor das verdades absolutas.
A emancipação e a felicidade são pontos de chegada do esforço civilizatório humanista. O humanismo pressupõe o “eu sei aonde quero chegar”. Essa felicidade serve de norte para todo e qualquer esforço reflexivo. No pensamento moderno humanista, os esforços de conhecimentos são meios para se chegar a um fim.
Essa sistematização é rompida com o advento do Humanismo. O pensador moderno não pretendia investigar certezas a respeito do mundo e de si mesmo ou conhecer por conhecer. Entretanto, buscava um projeto grandioso de civilização. O pensador moderno enxergava a civilização à frente, buscava por uma finalidade da sua existência e do coletivo. Assim, a sociedade passa de um realismo ingênuo a um idealismo garantidor das verdades absolutas.
A emancipação e a felicidade são pontos de chegada do esforço civilizatório humanista. O humanismo pressupõe o “eu sei aonde quero chegar”. Essa felicidade serve de norte para todo e qualquer esforço reflexivo. No pensamento moderno humanista, os esforços de conhecimentos são meios para se chegar a um fim.
O paradigma da subjetividade levou à desconstrução do sujeito. Este mundo passa a perder a capacidade de cogitar sobre os fins. Heidegger definira esta impossibilidade de reflexão sobre os fins como o mundo da técnica. Mundo em que o meio vale pelo meio. Os meios acumulados dispensam a reflexão sobre a finalidade desses meios. O desenvolvimento das forças produtivas (Marx) basta por si próprio. Tramita um esforço espetacular de acumulação de meios, sem que se possa saber para que, com que finalidade, para onde vamos. Daí, o mundo da técnica, a técnica é reflexão sobre os meios. Mas aqui a reflexão sobre os meios dispensa a reflexão sobre os fins. Os fins são os próprios meios.
A primeira modernidade é substituída por outra, por uma segunda modernidade. Esta se caracteriza por um momento profundo de desconstrução dos valores modernos e questiona o paradigma do sujeito, tanto da ciência moderna, quanto das finalidades humanistas. O outro é problematizado, é um ponto de interrogação espetacular. O outro se manifesta, é pouco mais que uma coisa. Quem garante que suas manifestações correspondem aos aspectos essenciais? Posiciona-se sob o crivo da dúvida radical do cartesianismo, assim como tudo que passa pelos olhos. Descartes tem dificuldade de incorporar o outro. Não se pode ter certeza que o outro também pense. Torna-se difícil o estabelecimento de uma civilização feliz devido à incerteza que o outro possa ser pensante, duvidante, cogitante. O outro não passa de uma probabilidade. Cai-se no solipsismo, na solidão aprisionante.
Hoje o universo foi redimensionalizado em onze facetas, com a construção das teorias das supercordas, à procura de novos conceitos para a reunificação dos fenômenos mais distintos e para a resolução de problemas, como o da gravitação quântica. Entretanto, ainda que bastante plausíveis, essas teorias carecem em reprodutibilidade.
Perspectiva estética do espetáculo
Durante muito tempo de reflexão filosófica, acreditava-se que o belo era um dado das coisas do mundo. O belo é natureza e esta é bela porque cósmica, porque ordenada, porque compreensível. Então neste ponto da reflexão, tipicamente grego, a obra de arte era a imitação da natureza, a bela obra de arte era a bela imitação da natureza. O belo está em tudo ordenadamente coligado para que o universo funcione bem. A obra de arte é a imitação desse belo. O belo neste momento independe do eu.
Durante muito tempo de reflexão filosófica, acreditava-se que o belo era um dado das coisas do mundo. O belo é natureza e esta é bela porque cósmica, porque ordenada, porque compreensível. Então neste ponto da reflexão, tipicamente grego, a obra de arte era a imitação da natureza, a bela obra de arte era a bela imitação da natureza. O belo está em tudo ordenadamente coligado para que o universo funcione bem. A obra de arte é a imitação desse belo. O belo neste momento independe do eu.
A modernidade propõe a reflexão de que se o sujeito comanda o espetáculo. Como se pode dizer que o sujeito não participa da definição do belo? O homem moderno, giro antropocêntrico, traz pra si a possibilidade de distinguir o belo do feio. A partir daí, o que importa fundamentalmente é o sujeito. Nada mais será belo em si, mas será belo quando constatado pelo sujeito como tal. Portanto, de certa forma, a beleza não se impõe mais, mas a beleza é um resultado da apreciação subjetiva do mundo. Dentro dessa perspectiva, a árvore ou a lua não são nem belas nem feias, mas somos nós que lhes daremos esse estatuto.
Conexões:
Arte Contemporânea,
Descartes,
Filosofia,
Galileu,
Heidegger
sábado, 20 de março de 2010
Walter Benjamin e a perda da experiência
Walter Benjamin (1892 - 1940) foi um crítico literário e filósofo. Uma de suas contribuições foi escrever sobre a chamada perda da experiência.
Nos seus relatos, usou como imagem um acontecimento depois da primeira guerra mundial, questionava por que os soldados que voltavam da guerra regressavam sem nada para contar, mudos?
Nos seus relatos, usou como imagem um acontecimento depois da primeira guerra mundial, questionava por que os soldados que voltavam da guerra regressavam sem nada para contar, mudos?
“Não era perceptível ao fim da guerra que os homens que voltavam dos campos de batalha haviam ficado mais silenciosos, não mais ricos e sim mais pobres em experiência comunicável. Se aceitarmos a noção de que a narrativa deriva da necessidade humana básica de explicar a realidade, não é surpreendente que houvesse menos entusiasmo a seu respeito em 1919. Como alguém poderia esperar poder explicar qualquer coisa no mundo onde a tecnologia humana movida pela cobiça humana havia mudado tudo, exceto as nuvens no céu?” (Walter Benjamin)
Por que os soldados voltavam sem nada para contar? Vazios de experiência?
Walter Benjamin usou a idéia do Freud, a função permanente da consciência de aparar choques e de reagir a estímulos impede não só a consistência psíquica do que foi vivido, porque não dá para o psiquismo acompanhar e representar, memorizar e criar uma narrativa para o que foi vivido, como impede a transmissão. Para Freud, isso é experiência, a qual é a obra psíquica de uma vida inteira, ou seja, poder narrar para mim mesmo o que eu estou vivendo e achar que algo disso que eu estou vivendo pode ser transmitido para o outro, de forma em que se cria uma espécie de corrente e a vida não pertence apenas àquele que vive, mas uma vida que se transmite, a sabedoria de vida, o legado.
Para Benjamin, o homem contemporâneo perdeu o valor da experiência, contrapondo a palavra experiência à palavra vivência. Essa vivência que não produz narrativa nem transmissão.
Walter Benjamin usou a idéia do Freud, a função permanente da consciência de aparar choques e de reagir a estímulos impede não só a consistência psíquica do que foi vivido, porque não dá para o psiquismo acompanhar e representar, memorizar e criar uma narrativa para o que foi vivido, como impede a transmissão. Para Freud, isso é experiência, a qual é a obra psíquica de uma vida inteira, ou seja, poder narrar para mim mesmo o que eu estou vivendo e achar que algo disso que eu estou vivendo pode ser transmitido para o outro, de forma em que se cria uma espécie de corrente e a vida não pertence apenas àquele que vive, mas uma vida que se transmite, a sabedoria de vida, o legado.
Para Benjamin, o homem contemporâneo perdeu o valor da experiência, contrapondo a palavra experiência à palavra vivência. Essa vivência que não produz narrativa nem transmissão.
“A velocidade das transformações faz com que aquilo de mais familiar em que você pode reconhecer seja as nuvens do céu” Maria Rita Kehl, psicanalista.
Conexões:
Cérebro e Mente,
Filosofia,
Frases,
Frases e Citações,
Freud,
Psicanálise,
Psicologia,
Walter Benjamin
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Ayn Rand (1905 - 1982): Speed, Dexedrine
"Definitions are the guardians of rationality, the first line of defense against the chaos of mental disintegration."
"Definições são os guardiães da racionalidade, a primeira linha de defesa contra o caos da desintegração mental."
"The worst evil that you can do, psychologically, is to laugh at yourself. That means spitting in your own face." (Question period following Lecture 11 of Leonard Peikoff's series "The Philosophy of Objectivism," 1976)
"O maior mal que você pode fazer, psicologicamente, é rir de si mesmo. Significa o mesmo que cuspir na própria face."
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Sobre as interligações entre Mitologia Grega, Farmacologia, Homeopatia e Taxonomia de serpentes
Na mitologia grega, as moiras (em grego antigo Μοῖραι) eram três irmãs que detinham o ofício de controlar o destino das pessoas.
Durante o trabalho, as moiras faziam uso da Roda da Fortuna, tear utilizado para tecer os fios que demonstra o arquétipo da fatalidade da morte. As voltas da roda posicionavam o fio do indivíduo em sua parte mais privilegiada (o topo) ou em sua parte menos desejável (o fundo), explicando-se assim os períodos de boa ou má sorte de todos.
Na Ilíada, representava uma lei que pairava sobre deuses e homens, pois nem Zeus estava autorizado a transgredi-la sem interferir na harmonia cósmica. Na Odisséia, aparecem as fiandeiras.
Os poetas da antiguidade descreviam as moiras como mulheres de aspecto sinistro, de grandes dentes e longas unhas. Nas artes plásticas, ao contrário, aparecem representadas como lindas donzelas. As Moiras eram:
* Cloto (Κλωθώ; klothó) em grego significa "fiar", segurava o fuso e tecia o fio da vida. Junto de Ilítia, Ártemis e Hécata, Cloto atuava como deusa dos nascimentos e partos.
* Láquesis (Λάχεσις; láchesis) grego significa "sortear" puxava e enrolava o fio tecido, Láquesis atuava junto com Tyche, Pluto, Moros e outros, sorteando o quinhão de atribuições que se ganhava em vida.
* Átropos (Ἄτροπος; átropos) em grego significa "afastar", ela cortava o fio da vida, Átropos juntamente a Tânatos, Queres e Moros, determinava o fim da vida.
--------------------------------------
Nos aspectos etimológicos, Láquesis origina o gênero de serpentes Lachesis sp., representada no Brasil pela surucucu, maior cobra peçonhenta da América do Sul, cujo veneno apresenta atividade hemorrágica, além de provocar síndrome vagal no acidentado. Na Homeopatia, seu veneno é utilizado como medicamento para uma variedade de indicações (vide lógica mais filosófica que científica da referida linha terapêutica).
Átropos me faz lembrar de Atropa belladonna L., que na taxonomia refere-se à planta de alto grau de toxicidade, principalmente devido à presença de seus alcalóides anticolinérgicos. Mas como Paracelsus com seu célebre apontamento já observou no século XVI que "todas as substâncias são venenos e que a dose certa diferencia um veneno de um remédio", a Atropa belladonna L. naturalmente produz a atropina, substância de importância fundamental na Farmacologia, como fármaco parassimpatolítico. Este, por sua vez, ainda que seja capaz de matar em circunstâncias de superdosagem, também serve como antídoto - em suas respectivas doses terapêuticas - para intoxicações por inseticidas organofosforados (metamidofós, clorpirifós) e carbamatos (chumbinho), gases neurotóxicos (Sarin), dentre tantas outras indicações.
Cloto me faz remeter a Crotalus sp., gênero de serpente da popular cascavel, cujo veneno provoca ação neurotóxica (ptose palpebral, diplopia, fácies miastênica), miotóxica e anticoagulante.
Entre em contato comigo caso queira reproduzir esse texto.
Sir Edward Burne-Jones - A roda da fortuna
Na Ilíada, representava uma lei que pairava sobre deuses e homens, pois nem Zeus estava autorizado a transgredi-la sem interferir na harmonia cósmica. Na Odisséia, aparecem as fiandeiras.
Giovanni Boccaccio - A roda da fortuna
Os poetas da antiguidade descreviam as moiras como mulheres de aspecto sinistro, de grandes dentes e longas unhas. Nas artes plásticas, ao contrário, aparecem representadas como lindas donzelas. As Moiras eram:
* Cloto (Κλωθώ; klothó) em grego significa "fiar", segurava o fuso e tecia o fio da vida. Junto de Ilítia, Ártemis e Hécata, Cloto atuava como deusa dos nascimentos e partos.
* Láquesis (Λάχεσις; láchesis) grego significa "sortear" puxava e enrolava o fio tecido, Láquesis atuava junto com Tyche, Pluto, Moros e outros, sorteando o quinhão de atribuições que se ganhava em vida.
* Átropos (Ἄτροπος; átropos) em grego significa "afastar", ela cortava o fio da vida, Átropos juntamente a Tânatos, Queres e Moros, determinava o fim da vida.
Alfred Agache - Alegoria da Fortuna (1885)
--------------------------------------
Nos aspectos etimológicos, Láquesis origina o gênero de serpentes Lachesis sp., representada no Brasil pela surucucu, maior cobra peçonhenta da América do Sul, cujo veneno apresenta atividade hemorrágica, além de provocar síndrome vagal no acidentado. Na Homeopatia, seu veneno é utilizado como medicamento para uma variedade de indicações (vide lógica mais filosófica que científica da referida linha terapêutica).
Átropos me faz lembrar de Atropa belladonna L., que na taxonomia refere-se à planta de alto grau de toxicidade, principalmente devido à presença de seus alcalóides anticolinérgicos. Mas como Paracelsus com seu célebre apontamento já observou no século XVI que "todas as substâncias são venenos e que a dose certa diferencia um veneno de um remédio", a Atropa belladonna L. naturalmente produz a atropina, substância de importância fundamental na Farmacologia, como fármaco parassimpatolítico. Este, por sua vez, ainda que seja capaz de matar em circunstâncias de superdosagem, também serve como antídoto - em suas respectivas doses terapêuticas - para intoxicações por inseticidas organofosforados (metamidofós, clorpirifós) e carbamatos (chumbinho), gases neurotóxicos (Sarin), dentre tantas outras indicações.
Cloto me faz remeter a Crotalus sp., gênero de serpente da popular cascavel, cujo veneno provoca ação neurotóxica (ptose palpebral, diplopia, fácies miastênica), miotóxica e anticoagulante.
Entre em contato comigo caso queira reproduzir esse texto.
Conexões:
Arquétipo,
Arte Clássica,
Cérebro e Mente,
Cobras,
Farmacologia,
Filosofia,
Frases e Citações,
Mitologia,
Moiras,
Psicologia,
Serpentes,
Tanatologia,
Toxicologia,
Venenos
Assinar:
Postagens (Atom)