Mostrando postagens com marcador Jack Kerouac. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Jack Kerouac. Mostrar todas as postagens
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Jack Kerouac (1922 - 1969): Alcohol
"I'm Catholic and I can't commit suicide, but I plan to drink myself to death."
"Eu sou católico e não posso cometer suicídio, mas posso planejar beber até a morte."
E assim o fez.
Conexões:
Alcohol,
Beatnik,
Cérebro e Mente,
Frases e Citações,
Grave,
Jack Kerouac,
Literatura,
Suicide,
Suicídio
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
Visões de Cody - Jack Kerouac (parte II)
América é onde um jornaleiro miserável e raquítico dorme num bar, seu rosto amassado como se houvesse sido repetidamente esmurrado contra o meio-fio em frente à sua banca - onde marginais com cara de fuinha trabalham parte do dia como passadores de drogas, roubam os bêbados, prostituem-se com homens e vagam pelas ruas sem destino certo - onde as pessoas esperam, cansam de esperar, onde os casais pobres dormem abraçados em velhos bancos de madeira enquanto os ventiladores, os aparelhos de ar condicionado e os motores todos da América zumbem na noite morta - onde os pretos bêbados, esfarrapados, exaustos apoiam os rostos sombrios nos braços duros dos bancos e dormem com as mãos caídas para os lados, os beiços espichados para a frente como faziam em criança numa noite de luar na casa de tábuas em que moravam no Alabama - ou então numa casinha no bairro de Jamaica, em Nova Iorque, rodeados de negrinhos e cachorros, as ruas animadas num sábado à noite com o movimento dos carros, os bares repletos de gente, pretos bem vestidos passeando de cabeça erguida pelas ruas, a alegria de todos transbordando exteriormente - América é onde o jovem trabalhador que andava antigamente de calça cáqui, botinas do exército, boné do posto de gasolina na cabeça e um blusão de duas cores como usava a "turma" dez anos atrás, cochila agora de cabeça baixa no ponto final do bonde com a camisa suja de um trabalhador noturno, a palma da mão virada para cima como se fosse receber alguma coisa da noite - a outra mão caída, forte, musculosa, patética, tomada trágica por circunstâncias inconfessáveis - a mão direita aberta parece a de um mendigo, os dedos sugerindo o que ele merece e deseja receber, formulando seus desejos secretos, o polegar quase encostando nas unhas, como se estivesse dizendo no sonho o que não ousa confessar acordado "Por que vocês tomaram tudo isso de mim, impedindo que eu descanse na paz e na suavidade da minha cama em lugar de vestir essa roupa nojenta e sentar nesses bancos duros de madeira esperando a hora que esse negócio se decida a andar" e mais adiante - "Não quero mostrar minha mão, mas no sono a gente não sabe o que faz e por isso a levanta, vamos aproveite esta oportunidade para ouvir minha queixa, eu estou sozinho, estou doente, estou morrendo". (um outro que está dormindo geme em voz alta, ele não deveria estar nesta sala de espera, antes numa enfermaria, num pronto socorro, numa sala de operação, num campo de batalha, nas portas do juízo final) - "veja minha mão erguida, leia o segredo do meu coração, dê-me o que lhe peço, dê-me sua mão, leve-me para um local seguro, seja bom comigo, seja delicado, sorria; estou exausto, desisto de lutar, confesso-me vencido, quero ir para casa, leve-me para casa Ó irmão encontrado na noite, leve-me para casa, guarde-me num lugar seguro - leve-me para onde não exista mais casa, onde tudo seja paz e tranquiIidade, leve-me para o lugar que nunca existiu ou que nunca foi conhecido, leve-me para a família da vida - Minha mãe, meu pai, minha irmã, minha mulher e você meu irmão e você meu amigo - leve-me para a família que não existe - mas não adianta, não adianta, não adianta, acordo e daria tudo para estar na minha cama, Ó meu Deus ajudai-me". Esse sonho se repete todos os dias - ouço os passos de mais um que se aproxima, escuto a litania das vozes que se lamentam, as portas que rangem -...
de Geração Beat - Antologia
Org. por Seymour Krim
Editora Brasiliense, 1968
Org. por Seymour Krim
Editora Brasiliense, 1968
Conexões:
Beatnik,
Cody Pomeray,
Jack Kerouac,
Literatura,
Poesia,
Poetry,
Seymour Krim,
Visions of Cody,
Visões de Cody
Visões de Cody - Jack Kerouac (parte I)
Em Pueblo Colorado, no meio do inverno, Cody sentou-se em um banco de bar às três horas da madrugada na triste situação de quem está sendo procurado pela polícia na América do Norte, ou pelo menos procurado durante a noite (batendo com a moeda no balcão como alguém que mata uma mosca com a mão ) - América, a palavra, o som dessa palavra é a entonação da minha infelicidade, a expressão do meu amargo e estúpido sofrimento - entre minhas recordações felizes não consta o nome da América, elas possuem um nome bem mais íntimo, mais pessoal, mais secreto, um nome apenas balbuciado - América é ser procurado pela polícia, é ser perseguido através do Kentucky e do Ohio, é dormir em estábulos cheios de ratos ouvindo os gemidos do vento nos telhados de zinco dos silos sombrios, é o retrato de um herói nas revistas policiais, é a hora impessoal da noite quando as pessoas se sentem perdidas nas encruzilhadas das estradas e ninguém se importa - América é o país onde ninguém tem o direito de chorar consigo mesmo - É onde os gregos lutam para serem aceitos, se bem que muitas vezes venham de Malta ou de Chipre - América é o que ficou colado à alma de Cody Pomeray, o ônus e o estigma - isso quando um enorme sujeito vestido à paisana surrou-o em um quarto dos fundos até que ele falou de alguma coisa que já não tem mais importância alguma. América (QUADRILHA DE JOVENS SEXO ENTORPECENTES E CARROS!) é também a luz neon vermelha e as coxas num hotel barato onde à noite os bêbados trôpegos saem para as ruas, como um enxame de baratas, quando os bares se fecham - onde as pessoas, milhares de pessoas, estão chorando e mordendo os lábios nos bares e nas camas vazias, onde há sempre alguém se masturbando em algum canto escuro - Existem caminhos malditos atrás dos postos de gasolina onde cachorros assassinos rosnam atrás de cercas de arame farpado e onde surgem de repente carros da polícia, como se fugissem de algum crime inconfessável, mais vergonhoso do que as palavras podem expressar - onde Cody Pomeray aprendeu que as pessoas não são boas, elas querem ser más, elas gostam de apanhar e bater - é onde as cenas do amor transcorrem em meio a gemidos de raiva e de dor - a América transformou o rosto de um jovem em algo doloroso de se ver, rodeou suas pálpebras de olheiras fundas e negras, tingiu seu rosto de uma cor desbotada, cresceu pêlos na testa que antes era lisa como o mármore, transformou seu desejo ardente em uma sabedoria silenciosa e muda (ele não conversa mais, nem consigo mesmo, no meio da noite maldita) - ah os ruídos das xícaras de café na tristeza infinita da noite - Alguém está lavando a louça na pia a essa hora da manhã (e tudo isso para nada, para nada, num Colorado desértico e ventoso) - Ah e ninguém se importa mas o coração no centro da América haverá de pulsar novamente quando todos os vendedores morrerem...
de Geração Beat - Antologia
Org. por Seymour Krim
Editora Brasiliense, 1968
Org. por Seymour Krim
Editora Brasiliense, 1968
Conexões:
Beatnik,
Cody Pomeray,
Jack Kerouac,
Literatura,
Poesia,
Poetry,
Seymour Krim,
Visions of Cody,
Visões de Cody
domingo, 7 de fevereiro de 2010
Jack Kerouac on The Steve Allen Show
"A lot of people ask me why I wrote this book or any book. All the stories I wrote are true because I believe in what I saw. I was traveling west one time at the junction of the state line of Colorado – its arid western one, and the state line of poor Utah. I saw in the clouds huge and massed above the fearing golden desert of even fall – the Great Image of God with four fingers pointed straight at me. Through halos and rolls and gold foals that were like the existence of the gleaming spear in His right hand which sayeth c’mon boy, go thou across the ground. Go moan for man. Go moan. Go groan. Go groan alone. Go roll your bones. Alone. Go thou and be little beneath my sight. Go thou and be minutest seed in the pod. Go thou go thou – die hence, and if this world report you well and truly.Tradução:
I'm writing this book because we're all going to die - In the loneliness of my life, my father dead, my brother dead, my mother far away, my sister and my wife far away, nothing here but my own tragic hands that once were guarded by a world, a sweet attention, that now are left to guide and disappear their own way into the common dark of all our death, sleeping in me raw bed, alone and stupid: with just this one pride and consolation: my heart broke in the general despair and opened up inward to the Lord, I made a supplication in this dream.
So in the last page of On the Road, I describe how the hero Dean Moriarty has come to see me all the way from the West Coast just for a day or two. We’d just been back and forth across the country several times in cars, and now our adventures are over. We’re still great friends, but we have to go into later phases of our lives. So there he goes, Dean Moriarty, ragged in a motheaten overcoat he brought specially for the freezing temperatures of the East, walking off alone, and last I saw of him he rounded the corner of Seventh Avenue, eyes on the street ahead and bent to it again. Gone.
So in America when the sun goes down and I sit on the old broken-down river pier watching the long, long skies over New Jersey and sense all that raw land that rolls in one unbelievable huge bulge over to the West Coast, and all that road going, all the people dreaming in the immensity of it, and in Iowa I know by now the children must be crying in the land where they let the children cry, and tonight the stars’ll be out, and don’t you know that God is Pooh Bear? the evening star must be drooping and shedding her sparkler dims on the prairie, which is just before the coming of complete night that blesses the earth, darkens all rivers, cups the peaks and folds the final shore in, and nobody, nobody knows what’s going to happen to anybody besides the forlorn rags of growing old, I think of Dean Moriarty, I even think of Old Dean Moriarty the father we never found, I think of Dean Moriarty. I think of Dean Moriarty."
"Muita gente me pergunta por que escrevi esse livro ou qualquer livro. Todas as histórias que escrevi são verdadeiras, porque acredito no que eu vi. Estive no Oeste uma vez, e no entroncamento para o Colorado, na estrada West 1, numa parada lá por Utah, eu vi entre as nuvens, imenso e poderoso sobre o ardente e brilhante fim de tarde no deserto, a imagem de Deus, com seu indicador apontando direto para mim. E num instante que valeria uma vida inteira, estendeu sua mão direita e disse: “Vá garoto, vá logo atravessar essa terra.” “Vá se queixar aos homens, vá sofrer.” “Vá sofrer sozinho. Vá dar suas cartas sozinho.” “Saia e estará mais próximo de estar ao meu lado.” “Saia e seja a menor semente em uma vagem.” “Saia, saia com tuas mãos e esse mundo saberá que o que diz é verdade.” Enfim, escrevi esse livro porque vamos todos morrer. Na solidão da minha vida, meu pai morreu, meu irmão morreu. Minha mãe está longe. Minha irmã e minha mulher estão longe. Nada aqui além de minhas mãos trágicas, pedindo uma palavra doce ou atenção. E que agora foram deixadas para guiar e desaparecer na escuridão das nossas vidas, dormindo numa cama crua, sozinho e tolo: Com esse único prêmio de consolação? Meu coração está partido, em total desespero. Termino com hinos ao Senhor, lançando súplicas nesse sonho. Assim, na última página de On the Road, descrevo como o herói Dean Moriarty veio me ver na costa Oeste por uns dias, andou comigo por todo o país várias vezes, e passou por aventuras comigo. E ainda era amigo mesmo nos piores momentos de nossas vidas. Esfarrapado num sobretudo comido por traças, que havia comprado especialmente para as gélidas temperaturas do Leste, afastou-se a pé sozinho. E a última visão que tive dele, foi quando dobrou a esquina da 7ª avenida, com os olhos voltados para a rua em frente e dobrou outra vez. Ele se foi. Então, na América, quando o sol se põe e me sento no velho e arruinado cais, olhando os longos, longos céus de Nova Jersey, e posso sentir toda aquela terra rude se derramando numa única, inacreditável e elevada vastidão até a costa Oeste, e toda aquela estrada seguindo em frente, todas as pessoas sonhando nessa imensidão e em Iowa, eu sei que agora as crianças devem estar chorando na terra onde deixam as crianças chorar. E essa noite as estrelas aparecerão e você não sabe que Deus é a Ursa Maior. E a estrela do entardecer deve estar morrendo e irradiando sua pálida cintilância sobre a pradaria, antes da chegada total da noite que abençoa a terra, escurece todos os rios, recobre os picos e oculta a última praia. E ninguém, ninguém sabe o que vai acontecer a qualquer pessoa, para além dos miseráveis trapos da velhice. Eu penso em Dean Moriarty, penso até no velho Dean Moriarty, o pai que nunca encontramos. Eu penso em Dean Moriarty. Eu penso em Dean Moriarty."
Conexões:
Beatnik,
Dean Moriarty,
Jack Kerouac,
Literatura,
On the Road,
Poesia,
Poetry,
Vídeos,
Visions of Cody,
Visões de Cody
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Mad people
"The only people for me are the mad ones, the ones who are mad to live, mad to talk, mad to be saved, desirous of everything at the same time, the ones who never yawn or say a commonplace thing, but burn, burn, burn, like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars and in the middle you see the blue centerlight pop and everybody goes "Awww!""
"As únicas pessoas autênticas, para mim, são as loucas, as que estão loucas por viver, loucas para falar, loucas para serem salvas, desejosas de tudo ao mesmo tempo, as que não bocejam nem dizem nenhum lugar-comum, mas ardem, ardem, ardem, como fabulosas grinaldas amarelas a explodir, semelhantes a aranhas, através das estrelas, e no meio vê-se o clarão azul a estourar e toda a gente exclama "Aaaah!""
(Jack Kerouac - On the Road)
About the picture: "He’s making a Dostoevsky mad-face or Russian basso be-bop Om, then involved with The Subterraneans, just walking around the neighborhood, pencils and notebook in the wool shirt-pocket, Manhattan Fall 1953." (Ginsberg Caption)
Conexões:
Allen Ginsberg,
Beatnik,
Frases e Citações,
Jack Kerouac,
Literatura,
Mad people,
On the Road
Controle
"My fault, my failure, is not in the passions i have, but in my lack of control in them."
"A minha falha e o meu fracasso não são as minhas paixões, mas a falta de controle sobre elas."
(Jack Kerouac)
Conexões:
Beatnik,
Controle,
Frases e Citações,
Jack Kerouac,
Literatura
sábado, 28 de novembro de 2009
Assinar:
Postagens (Atom)