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domingo, 7 de março de 2010

Asas do desejo, ou o alcance da utopia

“Agora, eu sei o que nenhum anjo sabe”

Der Himmel über Berlin (O Céu sobre Berlim), título original em alemão. Por se tratar de uma co-produção franco-alemã, temos um segundo título, adotado em inglês e português, Asas do Desejo (Wings of Desire).

Uma obra-prima de Wim Wenders, de 1987, situada no Berlim pós-guerra, mas se torna atemporal ao considerarmos as questões existenciais da trama.
Dois anjos, Cassiel e Damiel, passam sua eternidade entre os humanos, mas não podem integrar-se a eles, dada a sua condição etérea. Damiel questionava sobre o sentido da sua existência e sentia-se incompleto por não poder vivenciar as experiências humanas. Quando se apaixona por Marion, encontra o momento de certeza para desejar abandonar a imortalidade e ser capaz de viver o seu amor. 












O anjo sem poder ser coadjuvante da humanidade.


Os dois anjos escutam os pensamentos dos humanos, são espectadores do sofrimento, mas só  conseguem proporcionar ao homem um conforto invisível e momentâneo, mas não a salvação. Só as crianças podiam vê-los, o que as aproximavam dos anjos, uma rica metáfora explorada no filme.
Marion também era dotada de asas, mas estas eram limitadas, apenas fixas na sua indumentária de trapezista para que desempenhasse seu ofício. Triste e introspectiva, apresentava seu espetáculo circense todas as noites. Destaco a magnífica cena em que Marion, prestes a abandonar sua esperança, apresenta uma inquietante demonstração no trapézio, sem se dar conta que o anjo que lhe salvaria a contemplava, num misto de fascinação e preocupação.
Filme-poema 

Na ausência das asas do desejo, o homem é estagnado, preso por entre os muros da Berlim de Wenders.
 
E fica a nossa procura por esses anjos que se tornaram humanos.

A ótica metafísica do filme é que, para preencher o vazio da existência, nem ser humano, nem ser anjo, mas ser amado. E por isso o anjo Damiel abdica da sua solitária e vazia condição preto-e-branco e se entrega a esse intenso e vívido sentimento. Sua primeira grande prova de amor, tornar-se humano em um mundo envolto de tristezas. Um mundo em que ainda que fosse visto colorido, havia a velhice, o suicídio, a pobreza e a melancolia, todos explorados no filme.
O confronto entre o divino e o efêmero

Elenco:
•    Bruno Ganz (Damiel)
•    Solveig Dommartin (Marion)
•    Otto Sander (Cassiel)
•    Curt Bois (Homer)
•    Peter Falk (Peter Falk)
•    Hans Martin Stier (Homem à beira da morte)
•    Sigurd Rachman (Suicida)
•    Beatrice Manowski (Prostituta)
•    Lajos Kovács (Técnico de Marion)
•    Bruno Rosaz (Palhaço)
Trilha sonora de qualidade, com participação de Nick Cave & The Bad Seeds.
Não percam tempo com Cidade dos Anjos, filme que tentou ser o sucessor de Asas do Desejo, através de uma fórmula criada muito falha, resultando numa imitação extremamente inferior.
  • Entre em contato comigo caso queira reproduzir esse texto. 
Veja também:

Filme 16 anos de álcool

sábado, 13 de fevereiro de 2010

"Holy Sonnet X: Death, Be Not Proud" (John Donne)

 William Blake


Death, be not proud, though some have called thee
Mighty and dreadful, for thou art not so;
For those whom thou think'st thou dost overthrow
Die not, poor death, nor yet canst thou kill me.
From rest and sleep, which yet thy pictures be,
Much pleasure, then from thee much more, must low
And soonest our best men with thee do go,
Rest of their bones and soul's delivery.
Thou art slave to fate, chance, kings and desperate men
And dost with poison, war and sickness dwell,
And poppy or charms can make us sleep as well
And better than thy stroke; why swell'st thou then ?
One short sleep past, we wake eternally,
And death shall be no more; death, thou shalt die.
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Morte não te orgulhes, embora muitos te chamam
Poderosa e apavorosa: o que não eres tu;
Porque os que pensas ter derrubado,
Não morrem, oh morte, e nunca poderias tu matar a mim.
Eres na verdade o retrato de denscanso e sono
E o prazer não é tão pouco teu.
Dos nossos os mais puros contigo vão primeiro
Para descansar seus ossos e entregar suas almas.
Tu eres escrava do destino, do acaso, de reis e homens desesperados;
Mas o veneno, a guerra e a doença também nos fazem dormir
É até melhor que fazes tu; por que então te orgulhas?
Depois do cochilo, acordaremos eternamente,
E a morte nada mais será; morte, tu morrerás.

John Donne é considerado um mestre do conceito metafísico, uma metáfora abrangente que combina duas idéias imensas em apenas uma, frequentemente utilizando imagens. Diferentemente de comparações cliché entre objetos mais intimamente relacionados (tais como uma rosa e amor), os conceitos metafísicos avançam mais profundamente no que diz respeito à comparação de dois objetos completamente diferentes, embora, às vezes, pelos paradoxos radicais e antíteses de Shakespeare. Um dos mais famosos conceitos de Donne está em "A Valediction: Forbidding Mourning", no qual compara dois amantes separados pelas hastes de um compasso.