domingo, 7 de fevereiro de 2010

Jack Kerouac on The Steve Allen Show



"A lot of people ask me why I wrote this book or any book. All the stories I wrote are true because I believe in what I saw. I was traveling west one time at the junction of the state line of Colorado – its arid western one, and the state line of poor Utah. I saw in the clouds huge and massed above the fearing golden desert of even fall – the Great Image of God with four fingers pointed straight at me. Through halos and rolls and gold foals that were like the existence of the gleaming spear in His right hand which sayeth c’mon boy, go thou across the ground. Go moan for man. Go moan. Go groan. Go groan alone. Go roll your bones. Alone. Go thou and be little beneath my sight. Go thou and be minutest seed in the pod. Go thou go thou – die hence, and if this world report you well and truly.
I'm writing this book because we're all going to die - In the loneliness of my life, my father dead, my brother dead, my mother far away, my sister and my wife far away, nothing here but my own tragic hands that once were guarded by a world, a sweet attention, that now are left to guide and disappear their own way into the common dark of all our death, sleeping in me raw bed, alone and stupid: with just this one pride and consolation: my heart broke in the general despair and opened up inward to the Lord, I made a supplication in this dream.
So in the last page of On the Road, I describe how the hero Dean Moriarty has come to see me all the way from the West Coast just for a day or two. We’d just been back and forth across the country several times in cars, and now our adventures are over. We’re still great friends, but we have to go into later phases of our lives. So there he goes, Dean Moriarty, ragged in a motheaten overcoat he brought specially for the freezing temperatures of the East, walking off alone, and last I saw of him he rounded the corner of Seventh Avenue, eyes on the street ahead and bent to it again. Gone.
So in America when the sun goes down and I sit on the old broken-down river pier watching the long, long skies over New Jersey and sense all that raw land that rolls in one unbelievable huge bulge over to the West Coast, and all that road going, all the people dreaming in the immensity of it, and in Iowa I know by now the children must be crying in the land where they let the children cry, and tonight the stars’ll be out, and don’t you know that God is Pooh Bear? the evening star must be drooping and shedding her sparkler dims on the prairie, which is just before the coming of complete night that blesses the earth, darkens all rivers, cups the peaks and folds the final shore in, and nobody, nobody knows what’s going to happen to anybody besides the forlorn rags of growing old, I think of Dean Moriarty, I even think of Old Dean Moriarty the father we never found, I think of Dean Moriarty. I think of Dean Moriarty."
 Tradução:

"Muita gente me pergunta por que escrevi esse livro ou qualquer livro. Todas as histórias que escrevi são verdadeiras, porque acredito no que eu vi. Estive no Oeste uma vez, e no entroncamento para o Colorado, na estrada West 1, numa parada lá por Utah, eu vi entre as nuvens, imenso e poderoso sobre o ardente e brilhante fim de tarde no deserto, a imagem de Deus, com seu indicador apontando direto para mim. E num instante que valeria uma vida inteira, estendeu sua mão direita e disse: “Vá garoto, vá logo atravessar essa terra.” “Vá se queixar aos homens, vá sofrer.” “Vá sofrer sozinho. Vá dar suas cartas sozinho.” “Saia e estará mais próximo de estar ao meu lado.” “Saia e seja a menor semente em uma vagem.” “Saia, saia com tuas mãos e esse mundo saberá que o que diz é verdade.” Enfim, escrevi esse livro porque vamos todos morrer. Na solidão da minha vida, meu pai morreu, meu irmão morreu. Minha mãe está longe. Minha irmã e minha mulher estão longe. Nada aqui além de minhas mãos trágicas, pedindo uma palavra doce ou atenção. E que agora foram deixadas para guiar e desaparecer na escuridão das nossas vidas, dormindo numa cama crua, sozinho e tolo: Com esse único prêmio de consolação? Meu coração está partido, em total desespero. Termino com hinos ao Senhor, lançando súplicas nesse sonho. Assim, na última página de On the Road, descrevo como o herói Dean Moriarty veio me ver na costa Oeste por uns dias, andou comigo por todo o país várias vezes, e passou por aventuras comigo. E ainda era amigo mesmo nos piores momentos de nossas vidas. Esfarrapado num sobretudo comido por traças, que havia comprado especialmente para as gélidas temperaturas do Leste, afastou-se a pé sozinho. E a última visão que tive dele, foi quando dobrou a esquina da 7ª avenida, com os olhos voltados para a rua em frente e dobrou outra vez. Ele se foi. Então, na América, quando o sol se põe e me sento no velho e arruinado cais, olhando os longos, longos céus de Nova Jersey, e posso sentir toda aquela terra rude se derramando numa única, inacreditável e elevada vastidão até a costa Oeste, e toda aquela estrada seguindo em frente, todas as pessoas sonhando nessa imensidão e em Iowa, eu sei que agora as crianças devem estar chorando na terra onde deixam as crianças chorar. E essa noite as estrelas aparecerão e você não sabe que Deus é a Ursa Maior. E a estrela do entardecer deve estar morrendo e irradiando sua pálida cintilância sobre a pradaria, antes da chegada total da noite que abençoa a terra, escurece todos os rios, recobre os picos e oculta a última praia. E ninguém, ninguém sabe o que vai acontecer a qualquer pessoa, para além dos miseráveis trapos da velhice. Eu penso em Dean Moriarty, penso até no velho Dean Moriarty, o pai que nunca encontramos. Eu penso em Dean Moriarty. Eu penso em Dean Moriarty."

3 comentários:

  1. O sono escurece nossos sonhos, mas estamos livres. Não há desculpa para nosso fracasso.

    ResponderExcluir
  2. muito obrigado pela transcrição e tradução!

    ResponderExcluir
  3. Kerouac possui uma sensibilidade diferente, ele é um dos poucos escritores que transmitem isso pra min, pois ele escreve com muita sinceridade, sem esconder nada, e o leitor percebe isso logo nas primeiras páginas, parabens pelo post :]

    ResponderExcluir