segunda-feira, 29 de março de 2010
sábado, 27 de março de 2010
Zerotonina
Pavor
New Dawn Fades
Plantar o meu jardim ao invés de esperar que alguém me mande flores.
Alprazolam, oxalato de escitalopram... ETC
"There's nothing worse than too late."
Conexões:
Autorretrato,
Depressão,
Farmacologia,
Medicina
quinta-feira, 25 de março de 2010
Edge (Sylvia Plath)
Edge
The woman is perfected.Her dead
Body wears the smile of accomplishment,
The illusion of a Greek necessity
Flows in the scrolls of her toga,
Her bare
Feet seem to be saying:
We have come so far, it is over.
Each dead child coiled, a white serpent,
One at each little
Pitcher of milk, now empty.
She has folded
Them back into her body as petals
Of a rose close when the garden
Stiffens and odors bleed
From the sweet, deep throats of the night flower.
The moon has nothing to be sad about,
Staring from her hood of bone.
She is used to this sort of thing.
Her blacks crackle and drag.
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Limite
A mulher está perfeita.
Seu corpo
Morto enverga o sorriso de completude,
A ilusão de necessidade
Grega voga pelos veios da sua toga,
Seus pés
Nus parecem dizer:
Já caminhamos tanto, acabou.
Cada criança morta, enrodilhada, cobra branca,
Uma para cada pequena
Tigela de leite vazia.
Ela recolheu-as todas
Em seu corpo, como pétalas
Da rosa que se encerra, quando o jardim
Enrija e aromas sangram
Da fenda doce, funda, da flor noturna.
A lua não tem porque estar triste
Espectadora de touca
De osso; ela está acostumada.
Suas crateras trincam, fissura.
translated by Luiz Carlos de Brito Rezende
(in FOLHETIM Poemas Traduzidos, Ed. Folha de S. Paulo, Brazil, 1987, p. 65)
(in FOLHETIM Poemas Traduzidos, Ed. Folha de S. Paulo, Brazil, 1987, p. 65)
Poema escrito 10 dias antes do seu suicídio.
Leia mais:
Em busca da identidade perdida de Sylvia Plath em Ariel, por Ruan Nunes.
Morrer é uma arte? Sylvia Plath e os suicídios do autor, por Lilia Loman.
Limites da sublimação na criação literária, por Ana Cecília Carvalho.
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terça-feira, 23 de março de 2010
O misterioso e genial K de Nicholas Kalmakoff (1873-1955)
Kalmakoff na galeria Charpentier, Paris, 1928. Como muitos de seus trabalhos, este posicionado atrás do seu braço esquerdo parece estar perdido para sempre.
Nicholas Kalmakoff foi um artista russo, radicado em Paris, que passou sua existência como um eremita em um pequeno quarto de hotel e morreu sozinho e na miséria. Suas pinturas só foram descobertas em um obscuro mercado de pulgas, em 1962. Todas as suas obras eram assinadas com um "K" estilizado. Hoje ele é considerado uma das sentinelas do movimento visionário.
L. Caruana salienta:
“Throughout his solitary life, the artist has painted works that reflected his various obsessions with martyrdom, asceticism, decadence, spirituality and sexuality. Executed in a style marked by the Russian art nouveau, his imagery nevertheless transcended this movement, bearing undeniable traces of demented vision, indeed, genius.”
"Por toda sua vida solitária, o artista refletiu em seus trabalhos suas várias obsessões com o sofrimento, austeridade, decadência, espiritualidade e sexualidade. Seu estilo leva marcas do movimento russo art nouveau, entretanto seu imaginário transcendeu este movimento, trazendo traços inegáveis da sua visão louca, realmente genial."
Primeiro período (1908-1913)
Kalmakoff participou do movimento Mir Iskousstva.
Kalmakoff participou do movimento Mir Iskousstva.
THE WOMEN OF NADJIS - 1911
ATLAS AND THE HESPERIDES - 1911
RED SUNSET -1913
WOMAN WITH LEOPARD Ex-Libris for N. Teffi - 1910
STAGE DESIGN: THE SERPENTINE CRYPT - 1910
Segundo período (1913-1928)
Temas eróticos, misoginistas, autorretratos
THE SLEEPING CITY -1915
MONKEYS - 1915
LEDA AND THE SWAN - 1917
THE WRATH OF WAR - 1917
THE WIFE OF SATAN - 1919
THE APPARITION - data incerta
WOMAN, BUDDHA AND MONSTER - 1921
SELF PORTRAIT AS NARCISSUS - 1922
MYTHIC SCENE - 1923
THE WEDDING COUPLE - 1922
GATEWAY TO DREAMS - 1922
SATAN - 1923
SELF PORTRAIT - 1924
MEDUSA - 1924
ASTARTE - 1926
SALOME SPHINX - 1928
PRIMATE - 1927
CHAPELLE FORTIN: RAT WITH A MOUTHFUL OF GOLD - 1927
HOUSEHOLD SPIRITS - 1927
Terceiro período (1928-1955)
Dentro do seu estilo já estabelecido, envolveu-se também com temas épicos. Curiosamente, produz um pouco de propaganda nazista, como meio de se recuperar da pobreza. Não há obras conhecidas referentes aos sete últimos anos da sua vida, os quais foram arrastados num asilo.
NEPTUNE - 1936
THE DARKNESS - data incerta
ANGEL OF THE ABYSS - data incerta
GRAPES - 1943
PROPAGANDA NAZISTA - 1941
Conexões:
Arte Visionária,
Nicholas Kalmakoff
domingo, 21 de março de 2010
Medusa (Sylvia Plath)
Medusa
Off that landspit of stony mouth-plugs,
Eyes rolled by white sticks,
Ears cupping the sea's incoherences,
You house your unnerving head--God-ball,
Lens of mercies,
Your stooges
Plying their wild cells in my keel's shadow,
Pushing by like hearts,
Red stigmata at the very center,
Riding the rip tide to the nearest point of
departure,
Dragging their Jesus hair.
Did I escape, I wonder?
My mind winds to you
Old barnacled umbilicus, Atlantic cable,
Keeping itself, it seems, in a state of miraculous
repair.
In any case, you are always there,
Tremulous breath at the end of my line,
Curve of water upleaping
To my water rod, dazzling and grateful,
Touching and sucking.
I didn't call you.
I didn't call you at all.
Nevertheless, nevertheless
You steamed to me over the sea,
Fat and red, a placenta
Paralyzing the kicking lovers.
Cobra light
Squeezing the breath from the blood bells
Of the fuchsia. I could draw no breath,
Dead and moneyless,
Overexposed, like an X-ray.
Who do you think you are?
A Communion wafer? Blubbery Mary?
I shall take no bite of your body,
Bottle in which I live,
Ghastly Vatican.
I am sick to death of hot salt.
Green as eunuchs, your wishes
Hiss at my sins.
Off, off, eely tentacle!
There is nothing between us.
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Medusa
Longe dessa península de boquilhas petrificadas,
Olhos revirados por varetas brancas,
Orelhas absorvendo as incoerências marinhas,
Você abriga sua cabeça débil — bola divina,
Lente de piedades,
Seus parasitas
Abastecem suas células selvagens à sombra de minha quilha,
Empurrando como corações,
Estigmas vermelhos bem no centro,
Cavalgando a contracorrente até o ponto de partida mais próximo.
Arrastando seus cabelos de Jesus.
Escapei, me pergunto?
Minha mente sopra até você
Umbigo de velhos mariscos, cabo Atlântico,
Se mantendo, parece, em estado de milagrosa conservação.
Em todo caso, você está sempre ali,
Respiração trêmula no fim da minha linha,
Curva d'água pulando
Em meu caniço, deslumbrante e agradecida,
Tocando e sugando.
Não chamei você.
Não chamei você mesmo.
No entanto, no entanto
Você navegou em minha direção,
Obesa e vermelha, uma placenta
Paralisando amantes impetuososos.
Luz de naja
Espremendo o hálito das rubras campânulas
Da fúcsia. Sem poder respirar,
Morta e sem dinheiro,
Superexposta, como num raio x.
Quem você pensa que é?
Hóstia de comunhão? Maria Carpideira?
Não vou tirar nenhum pedaço desse seu corpo,
Garrafa aonde vivo,
Vaticano terrível.
O sal quente me mata de enjôo.
Imaturos como eunucos, seus desejos
Sibilam para meus pecados.
Fora, fora, coleante tentáculo!
Não há mais nada entre nós.
Versão psicanalítica dos poemas Daddy e Medusa, da Sylvia Plath:
Nazistas, Medusa e a Poesia, por Vinícius Carvalho Pereira
Veja também:
Poema Daddy, da Sylvia Plath
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sábado, 20 de março de 2010
Walter Benjamin e a perda da experiência
Walter Benjamin (1892 - 1940) foi um crítico literário e filósofo. Uma de suas contribuições foi escrever sobre a chamada perda da experiência.
Nos seus relatos, usou como imagem um acontecimento depois da primeira guerra mundial, questionava por que os soldados que voltavam da guerra regressavam sem nada para contar, mudos?
Nos seus relatos, usou como imagem um acontecimento depois da primeira guerra mundial, questionava por que os soldados que voltavam da guerra regressavam sem nada para contar, mudos?
“Não era perceptível ao fim da guerra que os homens que voltavam dos campos de batalha haviam ficado mais silenciosos, não mais ricos e sim mais pobres em experiência comunicável. Se aceitarmos a noção de que a narrativa deriva da necessidade humana básica de explicar a realidade, não é surpreendente que houvesse menos entusiasmo a seu respeito em 1919. Como alguém poderia esperar poder explicar qualquer coisa no mundo onde a tecnologia humana movida pela cobiça humana havia mudado tudo, exceto as nuvens no céu?” (Walter Benjamin)
Por que os soldados voltavam sem nada para contar? Vazios de experiência?
Walter Benjamin usou a idéia do Freud, a função permanente da consciência de aparar choques e de reagir a estímulos impede não só a consistência psíquica do que foi vivido, porque não dá para o psiquismo acompanhar e representar, memorizar e criar uma narrativa para o que foi vivido, como impede a transmissão. Para Freud, isso é experiência, a qual é a obra psíquica de uma vida inteira, ou seja, poder narrar para mim mesmo o que eu estou vivendo e achar que algo disso que eu estou vivendo pode ser transmitido para o outro, de forma em que se cria uma espécie de corrente e a vida não pertence apenas àquele que vive, mas uma vida que se transmite, a sabedoria de vida, o legado.
Para Benjamin, o homem contemporâneo perdeu o valor da experiência, contrapondo a palavra experiência à palavra vivência. Essa vivência que não produz narrativa nem transmissão.
Walter Benjamin usou a idéia do Freud, a função permanente da consciência de aparar choques e de reagir a estímulos impede não só a consistência psíquica do que foi vivido, porque não dá para o psiquismo acompanhar e representar, memorizar e criar uma narrativa para o que foi vivido, como impede a transmissão. Para Freud, isso é experiência, a qual é a obra psíquica de uma vida inteira, ou seja, poder narrar para mim mesmo o que eu estou vivendo e achar que algo disso que eu estou vivendo pode ser transmitido para o outro, de forma em que se cria uma espécie de corrente e a vida não pertence apenas àquele que vive, mas uma vida que se transmite, a sabedoria de vida, o legado.
Para Benjamin, o homem contemporâneo perdeu o valor da experiência, contrapondo a palavra experiência à palavra vivência. Essa vivência que não produz narrativa nem transmissão.
“A velocidade das transformações faz com que aquilo de mais familiar em que você pode reconhecer seja as nuvens do céu” Maria Rita Kehl, psicanalista.
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quinta-feira, 18 de março de 2010
Daddy (Sylvia Plath)
Daddy
You do not do, you do not do
Any more, black shoe
In which I have lived like a foot
For thirty years, poor and white,
Barely daring to breathe or Achoo.
Daddy, I have had to kill you.
You died before I had time---
Marble-heavy, a bag full of God,
Ghastly statue with one gray toe
Big as a Frisco seal
And a head in the freakish Atlantic
Where it pours bean green over blue
In the waters off the beautiful Nauset.
I used to pray to recover you.
Ach, du.
In the German tongue, in the Polish town
Scraped flat by the roller
Of wars, wars, wars.
But the name of the town is common.
My Polack friend
Says there are a dozen or two.
So I never could tell where you
Put your foot, your root,
I never could talk to you.
The tongue stuck in my jaw.
It stuck in a barb wire snare.
Ich, ich, ich, ich,
I could hardly speak.
I thought every German was you.
And the language obscene
An engine, an engine,
Chuffing me off like a Jew.
A Jew to Dachau, Auschwitz, Belsen.
I began to talk like a Jew.
I think I may well be a Jew.
The snows of the Tyrol, the clear beer of Vienna
Are not very pure or true.
With my gypsy ancestress and my weird luck
And my Taroc pack and my Taroc pack
I may be a bit of a Jew.
I have always been sacred of you,
With your Luftwaffe, your gobbledygoo.
And your neat mustache
And your Aryan eye, bright blue.
Panzer-man, panzer-man, O You----
Not God but a swastika
So black no sky could squeak through.
Every woman adores a Fascist,
The boot in the face, the brute
Brute heart of a brute like you.
You stand at the blackboard, daddy,
In the picture I have of you,
A cleft in your chin instead of your foot
But no less a devil for that, no not
Any less the black man who
Bit my pretty red heart in two.
I was ten when they buried you.
At twenty I tried to die
And get back, back, back to you.
I thought even the bones would do.
But they pulled me out of the sack,
And they stuck me together with glue.
And then I knew what to do.
I made a model of you,
A man in black with a Meinkampf look
And a love of the rack and the screw.
And I said I do, I do.
So daddy, I'm finally through.
The black telephone's off at the root,
The voices just can't worm through.
If I've killed one man, I've killed two---
The vampire who said he was you
And drank my blood for a year,
Seven years, if you want to know.
Daddy, you can lie back now.
There's a stake in your fat black heart
And the villagers never liked you.
They are dancing and stamping on you.
They always knew it was you.
Daddy, daddy, you bastard, I'm through.
Fonte: CARVALHO, A. C. A poética do suicídio de Sylvia Plath. Ed. UFMG, 2003. Versão psicanalítica dos poemas Daddy e Medusa, da Sylvia Plath: | |
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sexta-feira, 12 de março de 2010
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