domingo, 6 de junho de 2010

Nem as primeiras, nem as últimas

Guilhotina cega improvisada para ratazanas. Anestésico vencido, dose inexata. Com a primeira, foram necessárias três tentativas para que a decapitação fosse finalizada. Protusão da língua, cianose, sufocamento pela lâmina romba. Na segunda, com o ensaio anterior, o procedimento foi mais preciso. A terceira ratazana resistiu, defecou, escapou das mãos. Os odores de sangue dos seus congêneres prenunciavam sua dor muda. Sofreu a decapitação mais eficiente e o corpo sem cabeça agitado, correu em fuga. Ri alto por isso. Os três crânios foram abertos com uma tesoura, a substância branca foi descartada, inadequada para a experiência. Seus frágeis hipotálamos foram isolados e macerados. Está pronta a amostra para o experimento.
Ratos, instrumento de pesquisa para a elucidação do comportamento humano.

5 comentários:

  1. O texto é bem surreal e mostra sentimentos como curiosidade científica, medo da morte, desespero em busca da fuga, pressentimento de morte e agonia. Faz lembrar que em certos momentos a tensão e ansiedade nos fazem sentir o mesmo que os ratos, sendo que talvez sejamos peças de teste de alguma pessoa que pensa que somos cobaias para seus experimentos.

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  2. Uma exumação do valor de uma das mais espirituosas qualidades humanas: A Crueldade.

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